terça-feira, 9 de setembro de 2008

. A vida bate .



. Não se trata do poema e sim do homeme sua vida- a mentida, a ferida, a consentidavida já ganha e já perdida e ganhaoutra vez.Não se trata do poema e sim da fomede vida, o sôfrego pulsar entre constelaçõese embrulhos, entre engulhos. Alguns viajam, vãoa Nova York, a Santiagodo Chile. Outros ficammesmo na Rua da Alfândega, detrásde balcões e de guichês. Todos te buscam, fachode vida, escuro e claro, que é mais que a água na grama que o banho no mar, que o beijo na boca, mais que a paixão na cama.Todos te buscam e só alguns te acham. Alguns te acham e te perdem. Outros te acham e não te reconheceme há os que se perdem por te achar, ó desatinoó verdade, ó fome de vida!
O amor é difícilmas pode luzir em qualquer ponto da cidade. E estamos na cidadesob as nuvens e entre as águas azuis. A cidade. Vista do altoela é fabril e imaginária, se entrega inteira como se estivesse pronta. Vista do alto,com seus bairros e ruas e avenidas, a cidadeé o refúgio do homem, pertence a todos e a ninguém. Mas vista de perto,revela o seu túrbido presente, sua carnadura de pânico: as pessoas que vão e vêm que entram e saem, que passamsem rir, sem falar, entre apitos e gases. Ah, o escuro sangue urbano movido a juros.São pessoas que passam sem falar e estão cheias de vozes e ruínas . És Antônio?És Francisco? És Mariana? Onde escondeste o verdeclarão dos dias? Onde escondeste a vida que em teu olhar se apaga mal se acende? E passamoscarregados de flores sufocadas. Mas, dentro, no coração, eu sei, a vida bate. Subterraneamente,a vida bate. Em Caracas, no Harlem, em Nova Delhi, sob as penas da lei, em teu pulso, a vida bate.E é essa clandestina esperançamisturada ao sal do mar que me sustenta esta tardedebruçado à janela de meu quarto em Ipanema na América Latina .

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